Dei uma entrevista para o jornalista Renato Mota  do Jornal do Comércio http://www.jc.com.br  para a edição do dia 25/11/09 sobre podcast.  Como não houve  espaço para cobrir todas as minhas respostas, resolvi compartilhar com vocês a entrevista completa. Antes de  lerem lembrem-se que é apenas a minha opinião e não deve ser levada como a última palavra.  Não quero impor nada e sim apenas estou dando a minha opinião sobre um assunto que eu gosto.

 

Podcast como mídia:

Como você enxerga o podcast como veículo de mídia? Tem futuro? É uma mídia popular na internet ou muita gente ainda está por fora?
Eu enxergo como grande potencial, não como uma mídia opcional e sim como uma mídia independente. Ela ainda não esta popular mas é uma questão de tempo para se tornar conhecido pela massa.

O que lhe chamou a atenção para os podcasts em primeiro lugar?
Justamente a possibilidade de qualquer pessoa ser um emissor de informações e de opiniões sem a necessidade de dar satisfações ao um editor ou chefe. Também por não precisar ter uma licença homologada por algum orgão competente para transmitir suas idéias.

Desde 2005, quando você começou, o que mudou no podcast brasileiro e internacional?
Mudou bastante coisas. No meu tempo o podcast era visto e feito de forma “moleque” como diz o Gui Leite, o segundo podcaster no Brasil. Como não tinhamos uma referência de edição ou até mesmo as facilidades de colocar um episódio no ar como temos hoje, dávamos mais valor a cada podcaster da época, pois sabíamos o esforço de cada um. Até mesmo a nível internacional, houve uma grande mundança ao passo que varias empresas foram criando ferramentas fáceis para se gravar e publicar o podcast.

Como você enxerga a evolução do podcast no Brasil e no exterior?
Eu enxergo dois caminhos diferentes. Por exemplo aqui nos EUA em muitas capitais como New York, os americanos viajam geralmente de carro, onibus ou trem várias horas para chegar em seu local de trabalho todos os dias. O podcast acabou tornando-se um companheiro de viagem obrigatório. No Brasil eu vejo um caminho diferente. Dá-se a importancia em ouvir o podcast online, como se fosse uma radio web na frente do monitor. São duas culturas diferentes e consequentemente duas formas de ouvir ou encarar o podcast.

Qual a importância de programas como o iTunes e sites que reúnem vários podcasts?
São realmente os grandes responsáveis pela divulgação e distribuição de podcast. Muita gente veio conhecer o podcast acidentalmente navegando nestes sites ou até mesmo pelo iTunes. Devido a facilidade de você subscrever e baixar os episódios, o podcast está aos poucos conquistando novos ouvintes.

E os Videocasts? São uma evolução? Um meio diferente?
No videocast o foco já é realmente para as pessoas que estão conectadas online. Tanto é que a maioria dos videocasts, estão alistados em sites como Youtube, Blip.TV, Vimeo e etc. O produtor do videocast não se concentra especialmente para video player portateis. O publico maior deles estão justamentes nestes sites de videos que com a popularização da banda larga, cada vez estão disponibilizando videos com boa qualidade.
Temos bons videocasts independentes como também muitos programas comerciais que estão sendo disponibilizados em forma de videocasts. Infelizmente no Brasil as emissoras de TV não estão olhando para esta oportunidade de divulgar o seu produto. Preferem ainda o modelo antigo de restringirem o acesso ao seu video somente pelo site da emissora.
Aqui nos EUA até novela já está disponivel em videocast. Se você der uma olhada no diretorio de videocast no iTunes na loja americana verá todos os grande canais americanos com os seus programas disponibilizados de graça.

Podcast no Brasil:

A redução nos preços dos computadores e da banda larga no Brasil, assim como a popularização de celulares com MP3 e players pode ajudar o podcast brasileiro? Como atingir esse público novo?
Não não podem. Não adianta você dar a ferramenta ou o meio para as pessoas se elas nem conhecem o produto podcast. Aqui mesmo onde boa parte da população tem banda larga, telefones com mp3 players, muitos nem sabem o que é podcast. A poucos dias eu estava ouvindo um podcaster entrevistando um congressista americano e no meio da entrevista ele perguntou o que era podcast. Ou seja um politico que rege as leis americanas e as vezes até leis sobre direitos autorais nas musicas ou a regularização na internet, nunca tinha ouvido falar em podcast. Os jovens também que são os grandes consumidores de telefones celulares,  não tem conhecimento ou interesse em ouvir podcast. Muitos ouvintes de podcasts são pessoas que se cansaram da mídia convencional e descobriram a facilidade de ter um entretenimento alternativo. Não basta ter computador, banda larga, conhecer o que é podcast se a pessoa não tem interesse de ouvir. Este interesse que precisa ser cativado. Para dar certo no Brasil o podcast precisa divulgado por alguém popular. Um exemplo prático foi o que aconteceu com o twitter aqui. Muitos ouviam falar mas não sabiam o que era. Só foi a Oprah (apresentadora de TV) entrar no twitter e divulgar e até ensinar como twittar, ouve uma explosão de usuários imediata. O mesmo se dá com o podcast. Se uma pessoa popular entrar nesta mídia e divulgar o que é podcast com um produto que agrade a massa, aí sim teremos uma explosão de ouvintes.

Como um podcast independente pode concorrer com os institucionais (ligados a jornais e empresas)?
Por continuar sendo independente. (Risos) O que acontece é o seguinte, muita gente dá credibilidade ou fica bitolado a mídia convencional e acaba não tendo a oportunidade de conhecer algo novo, algo independente. Mas também as vezes a culpa é do proprio podcaster. Ser um podcast independente não quer dizer apenas que você não está ligado a certa empresa. Quer dizer que você emite uma informação ou opinião e muitas delas contrarias da mídia convencional. Conheço vários podcasters brasileiros que em seus programas falam ou divulgam as nótícias que estão nos portais ou jornais nacionais. Para que eu vou baixar um podcast com uma notícia defasada – pois por a internet ser dinâmica as informações perdem validade rapidamente – que entre o tempo de o podcaster copiar a notícia, colocar na pauta, gravar, editar o podcast e colocar no ar, a notícia já serveria para um episódio de retrospectiva. O ouvinte logicamente irá preferir baixar o podcast direto da fonte. Eu prefiro baixar um podcast que fala sua opinião sobre certo assunto mesmo que seja uma notícia velha. A notícia geralmente eu já li ou assisti na TV. O que eu e muitos procuram é a opinião ou o ponto de vista diferente da mídia convencional.

Esses podcasts institucionais estão sendo bem feitos? Jornais, portais e outros já “sacaram” qual é a do podcast? Ou ainda estão fazendo “rádio na internet”?
A maioria dos podcasts institucionais são apenas o audio de alguma entrevista, comentários ou notícia que já foi veiculado na rádio. Neste caso a qualidade é boa e a informação geralmente é interessante. Existiu por alguns anos uma certa rejeição desta mídia ao podcast brasileiro. Muitas rádios ficaram com medo de perder ouvintes pensando que o ouvinte iria preferir baixar o podcast. Muitos portais ficaram com medo de perder pageviews em seus sites. Aí eu entro novamente no assunto do iTunes. Se você entrar no diretorio de podcasts americanos, dentre os 100 mais baixados você encontra jornais como NY Times, revistas como Times, Newsweek e canais de tvs como NBC, CBS, Discover e etc. Por que eles estão lá entre os mais baixados? Por que eles enxergaram que o podcast ao inves de que muitos pensam podem sim cativar novos ouvintes ou novos visitantes as suas páginas. Eu faria o seguinte paralelo que uma emissora de TV, uma radio, um jornal ou um portal que não tem um podcast, seria hoje como uma empresa que não tem ainda um site na internet. Para mim não importa se o podcast é apenas um audio que foi veiculado em uma radio e foi disponibilizado em forma de podcast. O importante é que ela está dando oportunidade a aqueles que naquela determinada hora que foi ao ar a informação, ela não estava ouvindo a radio. Com o podscat, aquela informação que atingiu naquele momento milhares de pessoas pela rádio, terá a oportunidade de atingir outras milhares de pessoas por meio do podcast.

Estamos vendo, agora, um “podfade” como você comentou no seu blog?
Este termo “podfade” surgiu em 2005 que significava o desaparecimento de varios podcasts de destaques ou não. E foi algo a nível internacional. Muitos podcasters bons, com uma audiência razoável, em final de 2005 e início de 2006 foram aos poucos saindo do cenario por não gravarem novos episódios. E isto que costumo falar que é algo normal ou natural. Quando você se dedica a um hobby e depois de muito tempo gasto nele, você acaba vendo que ele está roubando tempo que antes você usava para ficar com a sua familia, para se divirtir indo ao cinema, festas ou uma simples caminhada no parque. Como a maioria dos podcasts não tem um retorno financeiro, não tem um grande numero de feedback, você acaba se desanimando e para de gravar. Outros fatores também é o momento que a pessoa grava o podcast. Talvez naquele momento ele tem pouca responsabilidade, não tem namorada, ou é solteiro ainda. Quando estes fatores mudam, entre as responsabilidades e um hobby as pessoas acabam escolhendo a responsabilidade. Mas uma coisa é certa, uma vez podcaster, sempre será podcaster. Por mais que não tenha tempo hoje, mas no futuro a pessoa votará a gravar.

Existem ciclos de crescimento e diminuição da quantidade de podcasts (os melhores ficam e os outros acabam sumindo) ou esse encolhimento é devido a fatores externos (tais como falta de organização e união)?
O que existe é uma empolgação. Quando uma pessoa começa a ouvir o podcast, ela vê que é possivel também criar o seu proprio podcast. Hoje existem várias ferramentas que ajudam e facilitam qualquer pessoa gravar. O problema é que muitos não se concentram numa categoria. Muitos tentam copiar certos podcasts falando sobre a época de escola, filmes de sessão da tarde ou os micos da vida. É legal, é engraçado. mas chega uma hora que este assunto acaba. E aí o seu publico que tava acostumado a rir com os micos da sua vida vai cobrar por mais histórias engraçadas e você não terá ou irá correr o risco de ficar repetitivo lançando epsiódios parte 2 parte 3 até que o publico perderá o interesse e você acabará desistindo de gravar. Se você se concentra num assunto que você gosta, se você cria um publico que está interessado na sua opinião, nos seus comentários, o podcast tem mais chances de sobreviver. Eu as vezes escuto comentários como “mas só temos podcasts de tecnologia, humor e músicas”! Concordo que a maioria são destas categorias mas se você for ver, mesmo sendo de categorias iguais o leque é enorme. Pois você pode se especializar em certo aspecto da categoria tecnologia, da música. Pois o publico tá interessado na sua opinião. Agora se você apenas copiar notícias ou tocar apenas as musicas que estao nas radios, não importando com a sua identidade, corre o mesmo risco de um dia acabar.
Também não vejo a falta de organização ou união para este encolhimento. Sim temos uma falta de organização e temos sim uma desunião grande. Mas vejo como algo normal.
Quando você tem um grupo de 5 ou 10 podcast é fácil ser unido, é fácil se organizarmos. Agora quando temos mais de 500 podcasts por exemplo perdemos o controle. Nem todos aceitam uma sugestão. Uma sugestão que você dá para um podcaster esta mesma pessoa pode achar que é uma critica e aí para criar um “mimimi” é questão de tempo.

Dá para fazer um paralelo entre o ciclo de vida dos blogs e dos podcasts? Podemos esperar uma profissionalização maior dos pods no futuro, como têm acontecido com os probloggers?
Eu vejo da seguinte maneira: Hoje com certeza é mais fácil você escrever do que gravar um podcast. Quando a pessoa tem facilidade de escrever, de expor a sua opinião, ela vai procurar se profissionalizar, para ser respeitado, para ter uma certa credibilidade e o mais importante para ter um retorno financeiro. O caminho para o podcast ser profissionalizado do zero é bem maior, cansativo e muitas vezes frustrante. O que eu vejo ocorrer é blogs com uma boa audiência iniciar e ter sucesso no podcast. O inverso é mais difícil mas lógico não impossível. Conheço alguns blogs que iniciaram com podcasts e hoje já estão com um destaque nacional, alguns até parando de gravar dedicando apenas ao blog e outros fazendo as duas partes. Mas para retorno finaceiro infelizmente hoje ainda é mais rápido e fácil pelo blog.

Quais são os maiores inimigos dos podcasters brasileiros?
Ego e falta de humildade.

Qual o feedback que você tem por analisar a podosfera brasileira no eddiesilva.com?
Olha, no Brasil infelizmente você não pode opinar ou comentar sobre algo. Você corre o risco de ser chamado de “chorrão” de estar fazendo “mimimi” e talvez seja este o motivo de eu ver muita gente em cima do muro não opinando sobre nada. Eu não me denomino um “expert” em podcast. Eu apenas gosto desta mídia e dou a minha opinião. Não quer dizer que esta opinião tem que ser seguida ou aplaudida de pé. Quer dizer o que eu penso sobre o assunto e gostaria de saber o que outros pensam também no assunto. Mas o que eu vejo geralmente são comentarios ou posts em cima do muro, tendo o cuidado de não citar alguém ou não falar algo que vá de encontro com a “opinião” publica.
Tem certas coisas que não precisa você ser um “expert” basta ver o que ocorre em sua volta, e poderá enxergar o futuro. Por exemplo em 2008 ao final do Prêmio Podcast eu fiz uma análise do que eu achava, do que eu via, do que eu sentia e escrevi  “Quando o podcast brasileiro irá amadurecer?”  falando de muitos problemas que eu via e que em 2009 se não tivessemos cuidado, teríamos um grande podfade como aconteceu em 2005. Recebi na época criticas absurdas, pessoas indignadas argumentando como poderia ter dito aquilo se na época era o auge do podcast brasileiro principalmente ao final do Premio. Bom veio 2009 e para minha sorte (risos) aconteceu. Mas não foi algo que eu tava torcendo para acontecer para provar se eu tava certo ou não. Não foi algo para ficar contente pois varios projetos meus dependia sim de o podcast dar certo no Brasil. Foi algo normal que por analisar friamente a situação como um empreendedor.  Pude prever, como qualquer pessoa poderia, se fizesse a mesma analise fria. Em setembro 2009 eu escrevi outro artigo “Qual é o atual cenário do Podcast Brasileiro? “onde comentava sobre o aviso que eu tinha dado no artigo de 2008. Novamente recebi críticas, pessoas falando mal, que eu queria me aparecer. Então como falei, infelizmente hoje você não pode opinar ou falar algo que vá de encontro com a massa. Mas se eu for ter que escrever coisas como se fosse “mel para os ouvidos” prefiro ficar quieto. Por isso que eu continuo escrevendo independente se alguém vai gostar ou não pois “Alguém Precisa Falar”. Para minha alegria alguns acabam gostando ou refletindo sobre o que escrevi e outros são amigos que já me acompanham desde 2005 esta minha trajetória no podcast brasileiro e sempre me dão apoio mesmo eu falando bobagens. (risos)

Existe uma “podosfera”? Qual a importância de se relacionar com os outros podcasters?
Eu entendo “podosfera” como um aglomerado de podcasters em certo cenario. Assim como uns amigos reunidos diariamente num “boteco” podem se chamar de “botequeiros”.
Não acho errado os podcasters se reunir, trocar idéias e ajudar os novos que estão iniciando. Acho errado sim quando em episódios, chats ou até mesmo no twitter, ficam falando mal de outros podcasts como tempo de duraçao, forma que é gravado ou sem edição. A partir do momento que você critica outro “companheiro” de podcast sobre o seu formato, acaba mostrando indiretamente ou melhor dizendo diretamente que a sua forma sim que é a correta. A sua forma de gravar ou editar que é o modelo certo. Aí já mostra a falta de humildade da pessoa e com estes realmente pra mim não vale a pena se relacionar.

Como você vê casos de sucesso como o Rapaduracast e o Nerdcast? Isolados?
Vejo com bons olhos e não podemos negar que muitos que começaram a gravar em 2008 e 2009 foram por causa deles. Alguns podem achar que sou demagogo por falar isto sendo que critiquei eles no meu ultimo artigo por não darem apoio ao podcast brasileiro. Infelizmente o que eu falei foi tirado do contexto e muitos ficaram indignados como já citei. Na realidade eu apenas quis dar um puxão de orelha pela a amizade que eu tinha com eles na época. Acho que exagerei no puxão e eles nem participaram no Prêmio por causa disso. Mas mesmo assim eu admiro o esforço que eles fizeram para chegar onde estão. Souberam usar a audiência de seus blogs com podcasts bem editados, com assuntos interessantes, alternativos e com uma boa dose de humor. Acredito que podem existir outros podcasts que tenham o mesmo sucesso. Desde que criem suas identidades, sejam originais e sejam profissionais. Hoje infelizmente as pessoas não são ou não querem ser criativas. Muitos preferem copiar a forma de abertura do nerdcast, muitos copiam até a forma que é postada a foto sobre o assunto do episódio no blog. Alguns raciocinam que tem que copiar o que deu certo. Com este pensamento serão eternamente uma “copia”. O segredo do sucesso do Nerdcast e Rapaduracast é a criatividade e a originalidade. Eu até entendo o porque o Nerdcast ou o Rapadura não se preocupam com os clones. Pois além de ser uma forma de divulgarem eles indiretamente, está bem claro que por um bom tempo eles não terão concorrentes a alturas. Mas esta é a minha opinião.

Prêmio Podcast:

Como começou o Prêmio Podcast? Qual era seu objetivo na época?
A ideia original foi em 2005 mas como na época tinhamos algo como 50 podcast ou menos, eu acabei engavetando o projeto. No início de 2008 o site iBest teve uma categoria Podcast a pedidos dos usuários e foram premiados na época os podcasts que realmente tinham maior audiência. Mais audiência, mais chances de ter votos. Eu vi que muitos podcasts bons não tiveram a mesma oportunidade de concorrer de igual pra igual e nem tinham a oportunidade de divulgação. Acabei entao tirando o projeto da gaveta e dei início a criação do Prêmio. Invez de eu criar um premio sozinho fechado, eu fiz algo bem transparente. Os podcasters ajudaram dando suas opiniões na regras que eram criadas, nas categorias e até na escolha do troféu. O premio em 2008 foi um sucesso devido a união e apoio de todos os podcasters participantes. Tivemos 200 inscritos para um cenário de 350 podcasts na época. O maior objetivo era a divulgação do podcast e foi cumprido pois muitos chegaram a conhecer novos podcasts devido o Prêmio. Até mesmo muitos que ganharam pelo quesito do Juri, a maioria dos ouvintes nunca tinham ouvido falar e depois de baixar os episódios acabaram gostando e assinando o podcast até hoje. Posso dizer tranquilamente que o objetivo de divulgação e dar a mesma oportunidade a um podcaster pequeno de concorrer um premio com um podcaster grande foi cumprido.

O que podemos esperar para o Prêmio de 2009? O que tem de novo e o que vocês aprenderam com a primeira versão?
A qualidade de podcasts neste ano aumentou embora o numero de concorrentes baixou. Tivemos 120 inscritos. Os motivos são vários, uns não continuaram a gravar, outros não quiseram por motivos pessoais, se ofenderam com o que escrevi em algum artigo e outros não estão nem aí mesmo com premiação. Falam que premiação é evento para alimentar o ego.
Eu sinceramente fiquei decepcionado com o nível que a pessoa pode chegar por causa de um troféu. Houve muita acusação entre concorrentes, um achando que o outro estava fraudando os votos por um dia estar em último e no outro dia em primeiro. Foi como falei no início, certas coisas não precisa ser um “expert” para entender ou prever algo. Muitos dos participantes tinham episódios quinzenais ou mensais. É normal então você ficar 15 ou 30 dias abaixo na votação e no lançamento de um episódio novo fazendo a campanha de votos, receber uma arrancada nos votos. Alguns viam esta arrancada como uma possível fraude de votos. Felizmente o nosso sistema de votação é muito seguro. Além de varios backups que eram feitos diariamente, o sistema acusava votos vindo do mesmo IP, votos vindo de Proxys. Para o voto ser validado precisava passar por 6 regras de segurança. Também o sistema fazia cruzamento com informações dadas no ato da inscrição e dos comentários dados no ato do voto. Estamos bem tranquilos que o ganhador do voto popular teve votos justos e válidos. Mas o problema de tudo isto é o ego e falta de humildade. Enquanto as pessoas acharem que o seu podcast é melhor do outro e merecia estar entre os indicados para votação do juri ou achar que você tem mais ouvintes que outros porque o podcast concorrente não tem muito comentários, ou o pagerank do site é baixo, isto sim é burrice e não precisa ser nenhum “expert” para saber disso.

Qual o futuro do Prêmio? Esse deve ser realmente o último?
Eu anunciei antes de terminar o prêmio a minha aposentadoria para projetos ao podcast brasileiro. Hoje eu não tenho nenhum animo de levar projetos meus que tinham a finalidade de ajudar a monetização e divulgação do podcast brasileiro. Gosto desta mídia, acredito no potencial mas quando suas propostas ou ideias e principalmente sua integridade é questionada por certos indivíduos que não tem a capacidade de fazer algo melhor, é triste e frustrante. Não quero dizer que não é possível aparecer uma premiação melhor. Pode sim e tenho certeza que irá aparecer. Hoje uma agencia, portal ou grupo de empreendedores tem grandes chances de criar uma premiação com maior abrangência, com maior destaque no cenario nacional, com mais participantes e com uma bela festa de entrega de trofeus. Basta pegar o que deu certo no Prêmio Podcast e o que deu errado segundo os “reclamantes”.  Isto é possível e fácil de fazer quando se está no Brasil. O Premio Podcast eu organizei aqui dos EUA, muitas noites mal durmidas, utilizando somente o meu tempo disponível, fora do trabalho. Os jurados também tendo que ouvir e avaliar podcast por podcast, fazendo no seu tempo disponível, sem ter um retorno financeiro só pelo fato que ama esta mídia. A empresa também que cuidou da segurança do sistema fazendo sem um retorno financeiro ou divulgação. Tudo por causa de gostarem do podcast. Posso dizer sem dúvida que os organizadores e jurados, fizeram tudo tendo como o objetivo ajudar na divulgação do podcast brasileiro. Se hoje tivessmos mais pessoas com este mesmo objetivo, acredito que seria mais fácil. Hoje pra mim não terá a terceira edição em 2010. Mas nunca se sabe. Pode chegar uma empresa, uma agencia propondo algo e aí podería até repensar. Mas nos moldes que foram feito em 2008 e 2009 sem patrocinio, colocando dinheiro do meu bolso, com certeza não teremos.

Geral:

Quais são seus podcasts favoritos que estão no ar hoje? E entre os que já se foram? Quantos você escuta por semana?
Muitos dos podcasts que eu escuto semanalmente, estão participando no Prêmio Podcast e como organizador e um dos jurados não posso divulgar pois para alguns estariam mostrando favoritismo. Entre os que se foram, eu sinto falta da Garota Sem Fio da Bia Kunze, do Gui Leite Podcast, RossoPomodoro e das meninas do Monaliza de Pijamas. Mas tenho certeza que eles votam um dia. Eu também escuto varios podcasts americanos como do Leo Laporte, Adam Curry, John C. Dvorak entre outros. Escuto uma média de 7 horas por dia de podcast que dependendo do tamanho pode ser de 8 a 10 podcasts diários de segunda a sexta. Sábado e domingo eu dou folga aos meus ouvidos a não ser que tenham alguma gravação online LIVE.

Para você, o que é um podcast de qualidade? Não no sentido “qual a fórmula do sucesso?”, mas o que um podcast tem que ter (ou não ter), para ser bom, agradável de ouvir independente de retorno financeiro?
Para mim podcast é bom quando termina e você quer ouvir o proximo. Tem que cativar o ouvinte. E isto só irá acontecer com um bom conteúdo, com respeito aos seus ouvintes e com respeito a outros podcasters. Muitos podcasters esquecem que os ouvintes tiraram tempo para baixar, ouvirem e mandarem uma critica. Quando a pessoa desrespeita o ouvinte, ela perde no mínimo 2 ouvintes, a pessoa que foi desrespeitada e eu. O conteúdo não precisa ser de humor ou só de música para me cativar. Qualquer assunto que é falado com propriedade pode me cativar e conquistar um publico específico. A formula do sucesso é a humildade, respeito com ouvintes, periodicidade, criatividade e mais importante gostar do que você faz.

O que se precisa para fazer um podcast? Quais os principais softwares e onde hospedar o arquivo?
Hoje é muito fácil fazer um podcast e colocar no ar. Com um laptop ou um velho computador você consegue gravar um bom podcast. O que pode ajudar a melhorar a qualidade seria um microfone USB onde a gravação do audio passaria ser digital e diminuiria os chiados que os microfones normais que gravam o som análogo dão. Um bom programa para gravar e editar o audio é o Audacity (http://audacity.sourceforge.net/) que é gratis. Na internet tem muitos tutoriais de como utilizar este programa. Grave em lugares que não tem muito barulho. Já ouvi podcasts bons que por incrivel que pareça foram gravados no banheiro pois eram o local mais silencioso na casa. Computadores velhos geralmente fazem muito barulho principalmente se está na mesma mesa que está o microfone. Boa solução é colocar o computador no chão e limpar o pó do ventilador dele. Irá diminuir consideravelmente o barulho. Os sistemas de blogs como o WordPress também tem plugins para você postar o seu podcast onde cria um feed automaticamente e também a possibilidade de colocar os players na sua página para o ouvinte ouvir direto online. Mas de nada adianta você ter tudo preparado se você não ter um foco, um assunto. Prepare uma pauta tendo em mente o que os ouvintes pensarão. Tente sair do obvio. Um assunto demasiado na mesma semana em varios podcasts acaba afugentando os ouvintes dos podcasts menos expressivos. Seja original. Crie a sua identidade. Cada programa tanto em podcast como na radio ou tv tem uma identidade propria. Um exemplo quando ouvimos “Bem amigos” o que vem na mente é o Galvão Bueno. Imagina se todos os locutores ou podcasters iniciassem seus programs com o “Bem amigos” do meu podcast. Automaticamente iremos lembrar do Galvão Bueno. Esta é a identidade dele, esta é uma maneira dele ser lembrado. Do mesmo modo no podcast. Muitos copiam o Nerdcast ou outro podcast em destaque. Acham legal, acham que não tem nenhum problema, mas tem. Você estará gravando um podcast sem identidade e será fácilmente esquecido no dia que parar de gravar.
Para hospedar podcast temos varios sites especializados. O mais conhecido é o mevio.com site do pai do podcast, Adam Curry. Para videocast temos boas opções mas o que eu recomendo é o blip.tv que tem a possibilidade de você ganhar com anuncios que são inseridos ao início do seu videocast.

O que você diria para quem ler a matéria e se interessar em produzir um podcast?
Primeiro, não acreditem em tudo que falei aqui. (Risos) Pesquisem, corram atras para aprender. Na internet tem boas informações em portugues para ajudar a gravar um podcast. Não pense que seu primeiro episódio deverá ser igual dos podcasts em destaque nacional. Com o tempo você vai aprendendo. Não tenha vergonha da sua voz, não tenha medo de expor sua opinião. Esta é a beleza do podcast, você poder falar o que quiser sem se preocupar com um editor. Mas não é por isso que você irá sair por aí falando o que quiser achando só porque é uma mídia livre todos irão escutar. As pessoas irão escutar se o que você fala tem propriedade. Se você critica algo, explique aos seus ouvintes porque você não gosta. Para mim não basta apenas dizer “eu não gosto do cara” Para mim você deverá me explicar e tentar convencer o porque você não gosta do cara. Eu as vezes escuto alguém falar no podcast “O Bill Gates é um burro” falando sobre algo que a MicroSoft fez. Mas não dá nenhum motivo porque ele acha que o Bill Gates é burro. Alias por fazer um comentário deste já mostra que a pessoa não tem nenhum conhecimento sobre o assunto pelo fato de primeiro o Bil Gates não estar mais no comando da MS e segundo que para onde ele chegou, com certeza com pouca inteligência não chegaria la. Se você gravar entrevistando alguém, deixa a pessoa responder as perguntas, deixa elas expressarem suas respostas até o fim, nunca interrompa o entrevistado para contar algo que aconteceu na sua vida. Use uma a caneta e papel para ir anotando o que veio na sua mente na hora da entrevista mas deixe a pessoa falar até o fim e não interrompa, pois o entrevistado pode perder o fio da meada e seus ouvintes ficarão com raiva de você assim como geralmente acontece nos talk shows que vemos na TV quando o apresentador quer provar a todos que sabe mais que o entrevistado.
E o principal, se divirta em gravar. Não faça algo pensando em retorno financeiro imediato, pensando em fama nacional ou destaque na sua cidade. Faça algo que ao final da gravação você tenha o prazer de ouvir. Quanto mais prazer você tiver no seu podcast, mais chances dele ter uma loga vida.
E para aqueles que não querem gravar mas apenas ouvir, eu dou a dica de respeitar os podcasts que você não gosta. Não é porque você só gosta de um podcast que os outros são ruins. Não ser do estilo que você gosta não quer dizer que o outro podcast não tenha uma boa informação, que não tenha uma boa qualidade. Navegue pelo site do Prêmio Podcast e você irá descobrir ótimos podcasts, tenho certeza.

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